A Contabilidade Nacional ou Contabilidade Social, que resulta nas Contas Nacionais, é, de maneira bastante simplificada, uma criação econômica/contábil para mensurar dados sobre a fonte e o destino de receitas e despesas ou produção de bens e serviços de uma dada economia. Dessa maneira, é possível analisar fluxos reais (de produtos e serviços) e fluxos monetários (renda e gastos), na economia que, mais na frente resulta na medida do PIB de um país. A definição do IBGE para o PIB, dentre inúmeras variações de definições de diferentes autores e instituições, é a seguinte:
produto interno bruto – Total dos bens e serviços produzidos pelas unidades produtoras residentes sendo, portanto, a soma dos valores adicionados pelos diversos setores acrescida dos impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos não incluídos na valoração da produção. Por outro lado, o produto interno bruto é igual à soma dos consumos finais de bens e serviços valorados a preço de mercado sendo, também, igual à soma das rendas primárias. Pode, portanto, ser expresso por três óticas: a) do lado da produção – o produto interno bruto é igual ao valor da produção menos o consumo intermediário, mais os impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos não incluídos no valor da produção; b) do lado da demanda – o produto interno bruto é igual à despesa de consumo final mais a formação bruta de capital fixo, mais a variação de estoques, mais as exportações de bens e serviços, menos as importações de bens e serviços; c) do lado da renda – o produto interno bruto é igual à remuneração dos empregados mais o total dos impostos, líquidos de subsídios, sobre a produção e a importação, mais o rendimento misto bruto, mais o excedente operacional bruto.
Compreender de onde vem isso é a proposta do post. Uma maneira fácil e didática é utilizando o Fluxo Circular da Renda. Mas o que é isso? É uma representação simplificada da realidade, como segue na figura abaixo. Nessa representação, antes de tudo, assumem-se algumas hipóteses simplificadoras: (i) é uma economia fechada, ou seja, não transaciona com o exterior (não há exportações de café ou minério de ferro, nem importação de brinquedos chineses e nem investimentos estrangeiros); (ii) é uma economia sem governo, ou seja, não há recolhimento de impostos nem propaganda eleitoral “gratuita” e não há bolsa família nem mensalão (a melhor hipótese, na minha opinião); (iii) não há poupança; e (iv) não há depreciação do capital.Tendo isso em mente, vamos supor então que a economia é composta por famílias e empresas, onde as famílias detêm os fatores de produção (FP) e as empresas possuem apenas a “louca e insaciável” vontade de produzir.
Nessa economia então, as empresas demandam fatores de produção (trabalho, terra, capital,…) uma vez que não detêm nada (seta vermelha entre “Empresas” e “Mercado de FP”, na figura). Elas vão ao mercado de fatores de produção e pagam/remuneram esses fatores (seta azul, entre os 2 quadros) de maneira que, a remuneração do trabalho, é o salário, a remuneração da terra, é o aluguel, a remuneração do capital pode ser o juro ou o lucro (dependendo da forma do capital) e por ai vai, sem estender para mais os FP. Essa remuneração, do ponto de vista das famílias, é entrada de receita, é renda (seta azul entre “Famílias” e “Mercado de FP”) e são as únicas que ofertam os FP no mercado (seta vermelha, entre os 2 quadros). As empresas então, tendo agora os FP passam a utilizá-los desenfreadamente até esgotá-los, resultando então em produção, que vai ser ofertada no mercado de bens e serviços (seta azul entre “Empresas” e “Mercado de bens e serviços”). As famílias, depois de receber a renda, passam a demandar bens e serviços e usam essa renda para adquiri-los (seta azul entre “Famílias” e “Mercado de bens e serviços), gerando então uma despesa sobre o ponto de vista das famílias, que, sob o ponto de vista das empresas, é receita. Assim, fecha-se um ciclo, que é o famoso Fluxo Circular da Renda (FCR).
Considerando isso, fica mais fácil de compreender as 3 óticas do PIB (demanda, renda e produção). Toda produção é ofertada no mercado logo todos os bens e serviços são consumidos (lembrando da hipótese de não-existência da poupança), que equivale à demanda e, toda produção precisa remunerar os FP, que é renda para as famílias ou, toda demanda precisa ser paga, que é como as famílias despendem seus recursos.
Tomando como base a contabilidade, podemos usar as famosas “contas em T”, método das partilhas dobradas ou, para os mais íntimos, razonetes. A idéia aqui não é dissertar sobre teorias contábeis então, para mais informações dessas estruturas, consulte a net, wikipedia ou livros de contabilidade. Nós economistas, na média, não nos aprofundamos muito nesse tema contábil, deixando mesmo para os contadores, mais “experts” no assunto. Fechando parênteses e continuando o post, seguem, na imagem ao lado, três tabelas. Em qualquer uma delas, há “Crédito” e “Débito”, de maneira que, como todo lançamento contábil é utilizado no mínimo duas contas – onde, para todo crédito há um débito e o somatório de um deve ser igual ao somatório do outro. Resgatando algumas linhas acima, tudo o que a empresa recebe, do ponto de vista da empresa, é receita mas, do ponto de vista das famílias, é despesa. Logo, na primeira tabela, à direita, tem-se a despesa bruta da economia, que é creditada às empresas. Do lado esquerdo, temos os débitos da empresa, ou seja, suas obrigações, seus gastos que, do ponto de vista de quem vai recebê-los (famílias) é a renda bruta.
Relaxando as hipóteses (iii) e (iv), ou seja, há poupança e há depreciação, podemos começar a entender melhor a tabela acima. Na primeira tabela (T1), das empresas, elas devem pagar salários (1), a remuneração do FP trabalho, que é creditado para as famílias (1), na segunda tabela (T2), na conta da apropriação. Os juros (2) são a remuneração do capital financeiro e o lucro distribuído (4) a remuneração do capital físico. O aluguel é a remuneração da terra, sendo todos esses acima fatores de produção (FP). Contudo, há depreciação (5) do capital, por exemplo, ferramentas e máquinas que se desgastam com o uso e tempo, que é paga às famílias para recuperar/indenizar o uso desse FP. E por fim, os lucros retidos (6) que são recursos das empresas não gastos, formando assim uma “poupança da empresa”. Contudo, a empresa também é família, do ponto de vista do indivíduo, sendo todos esses itens (1 a 6), a renda bruta das famílias, como no lado direito em T2. No lado esquerdo de T2, encontram-se os débitos das famílias, ou seja, a estrutura de gastos da renda bruta das mesmas. O consumo pessoal (7) são os bens e serviços adquiridos das empresas, logo, um débito para as famílias, mas um crédito para empresas, como em T1. Tudo aquilo que as famílias não consomem, é poupança (10). Essa poupança é creditada na conta de capital, do lado direito (crédito) e serve para financiar as atividades das indústrias/empresas (da famosa identidade macroeconômica S=I, poupança=investimento). Esse financiamento pode se dar através da FBCF (8) ou através de variação de estoque (9), que é produção não vendida, guardada para outro período ou produção de outro período vendida no período da Contas Nacionais em questão.
Esse caso simples é apenas em se considerando uma economia fechada, que não transaciona com o exterior, e sem governo (idéia que pode soar muito interessante, no caso de um governo ineficiente e corrupto, que não é o caso do Brasil, claro). Apesar da explicação acima, sabemos que a economia real não funciona assim e, portanto, é necessário incluir esses agentes dentro das contas, que é assunto para um próximo post. Por hora, já há bastante informação aqui.
Leia mais em: Entendendo as Contas Nacionais (II)
Muito bom! Parabéns pelo post! Me ajudou muito nos estudos das contas nacionais.
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By: Cristopher on 06/07/2011
at 4:33 PM
Muito boa sua explicação.
Me ajudou muito a entender esse assunto.
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By: Fabi on 05/12/2012
at 6:16 PM
Um país só é desenvolvido economicamente se não existe desequilibrios na distribuição dos rendimentos as populações
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By: silvano lissimo on 29/03/2013
at 7:50 AM
Silvano pensa bem no que você disse. Imagina um pais com uma renda total baixa. Não adianta distribuir igualmente a renda entre a população que todo mundo continua pobre. Economias desenvolvidas são aquelas com uma grande riqueza e na qual mesmos as famílias mais pobres ainda têm uma qualidade de vida superior. A diferença entre a renda do mais rico e do mais pobre não tem importância alguma contanto que o mais pobre tenha uma renda boa tanto faz se o mais rico tem uma renda um milhão de vezes maior.
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By: Anônimo on 09/04/2013
at 11:26 AM
Adorei, com esse post aumentei ainda mais os meus conhecimentos!!!
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By: Ramony Kelly on 19/04/2013
at 12:20 PM
valeu pela explicação, ajudou muito.
Grato.
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By: Anônimo on 08/11/2013
at 11:45 AM
Muito bem explicado meu amigo Guilherme, me deu um norte para aprofundar meus conhecimentos quanto a questão das contas nacionais.
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By: jacksonantunesrosasantos on 11/03/2014
at 11:07 AM