Publicado por: Guilherme Byrro Lopes | 21/08/2009

O que Monteiro Lobato diria sobre a crise?


Em passagem bastante interessante do livro “América” de Monteiro Lobato, segue um diálogo que, apesar de ter sido escrito visando descrever a crise de 1929, continua bastante atual. Acredito que vale a pena ler…

– Sim, sim, sim – disse Mister Slang, pondo sobre a mesa um número do Times que estivera lendo. – São cíclicas estas crises, sim (…)

Tomei o jornal. Vi o quadro. Tirei minhas lições e concluí por mim: – As crises da Bolsa vêm se repetindo com intervalos médios de quatro anos, e sempre como antecipação de crises econômicas. A Bolsa é mais sensível que o sismógrafo na detenção do abalo de crédito que se aproxima.

– Sim, sim, sim – continuou Mister Slang seguindo o curso do seu próprio pensamento. – O fenômeno é sempre o mesmo. Pulo pra frente – inflação; parada brusca, ou crise – reajustamento. No pulo à frente noto um fator constante: abuso de crédito, crença generalizada na ilusão de que a marcha para a frente pode ser feita assim rápida, aos saltos. O avanço conquistado com o pulo provoca entusiasmo e o entusiasmo traz consigo uma vitória do otimismo, a qual se concretiza no uso e intenso abuso do crédito. Ganhar tempo, sacar sobre o futuro! Mais, mais, mais! Mas subitamente, deflagrado por uma circunstância qualquer, sobrevém o medo de ter avançado muito, a desconfiança, o movimento precipitado de recuo para consolidar as posições. Esse retrocesso, feito em massa, por todos ao mesmo tempo, traz atropelos, quedas, desastres; e promovido por estes acidentes ocorre o pânico. Vem a deflagração e com ela o doloroso período de reajustamento. Reina o pessimismo. Desaparece o crédito, com a impressão geral de que o dinheiro acabou. No marasmo de repouso que se segue, o saneamento dos negócios se opera. A vassoura da falência limpa a árvore do business dos galhos secos ou enfermiços. O que subsiste merece viver, está são. Findo o período do repouso saneador, novo pulo à frente. E tudo continua…

(trecho do capítulo XXXIV, do livro “América” de Monteiro Lobato, publicado em 1932)

A crise agora é outra…. mas o processo ainda é o mesmo…


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